Nestes tempos de crise global por um lado e de consumismo nesta quadra natalícia por outro, o Zero sentia-se triste. Olhava para aquela barriga e achava-se feio. Gostava de ser esguio (um atleta!) como o 1 e elegante como o 4, belo como o 7 ou pelo menos esticar uma haste como o 6 ou o 9.
Mas o que mais o entristecia é que não valia nada. Não passava de um zero. Será que tinha sido feito por Deus? Certamente que não, pois então teria valor. Mas era sem dúvida obra dos homens, que por vezes fazem coisas sem valor algum. E ele era um deles. Contudo, o zero não se resignava à sua triste sorte. E como fazer? Disse então para consigo:
«Já sei o que vou fazer. Em vez de querer ir sempre ocupar o primeiro lugar quando me junto aos meus nove companheiros, irei colocar-me em último».
E assim fez. No primeiro encontro que teve com alguns companheiros, ficou em último lugar e descobriu que, se colocado à direita, valia muito. Assim, em vez de 9 presentes a distribuir eram 90!
A sua tristeza mudou-se em alegria. Afinal, a sua grandeza estava em ser humilde. Também ele era tão importante como os outros números.
Com a devida vénia:
"JUVENIL - revista da gente nova"- Nº530, Outubro de 2009, pág.4
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